Vamos ajudar a Munachi a aumentar o vocabulário!

Lauren Hynde

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Apr 11, 2002
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Há algumas palavras e expressões que, apesar de não aparecerem em nenhum dicionário que se preze, constituem a verdadeira base da língua portuguesa. Falo de neologismos, idiotismos, regionalismos, e calão em geral. Muitas vezes, são palavras que toda a gente de um determinado sítio entende, e que basta andar uns quilómetros em qualquer direcção para se tornarem enigmas indecifráveis. Outras, tornam-se um mistério para todos que ultrapassam uma determinada idade. Outras ainda são segredos profundos para toda a gente! Este thread serve para partilharmos algumas dessas palavras. Por exemplo:


Tótil. Tótil é uma daquelas expressões de uso polivalente e apropriada para qualquer situação (desde que se esteja à vontade com o interlocutor; convém evitá-la durante entrevistas de emprego e visitas à avozinha). Pode ter um significado quantitativo, querendo dizer "muito": "Isso foi há tótil de tempo" ou, simplesmente, "Isso foi há tótil". Pode ter um significado qualitativo, querendo dizer "bom": "As tuas calças são tótil!" ou "Que tótil!". Pode ter um significado quantitativo qualitativo: "Isso é tótil tótil!".
 
Tótil?...

Bolas, agora é que me senti realmente jurássico. Esse termo ainda se usa? Quando o li, a primeira coisa que me saltou à cabeça foi um programa de entretenimento imfanto-juvenil que passava há uns tempos na TV, o Tótil-Total...

Bolas, agora é que me senti velho e ignorante...
 
Mas também estava aqui num diálogo silencioso com os meus botões e caiu-me à mente:

"tótil" é um termo aglomerante.

Uma palavra tuga que junta os termos "fixe" e "bué".

- bué - é normalmente um quantitativo

Ex. Essas calças são bué (muito) caras.

- fixe - é mais um qualitativo, embora ache que consoante o contexto o bicho troca as pintas

- Essa camisola é fixe (bonita, com estilo).
- És fixe (simpática/interessante).

Hummm...

Ideia para mais dois threads...
 
Hm, teoria interessante. Tótil = Bué de fixe.

Claro que eu nunca usaria o termo "bué", quanto mais "bué de fixe". Isso é expressão sulista. Há que manter um nível mínimo de dignidade. :D
 
Isso foi malvado.

E devo dizer-te que é na boca de muitos "nortistas" que mais oiço tal expressão. Sempre que apanho o Inter Cidades e desço/subo na Gare do Oriente até dói. Nada como ser bombardeado por um "bué da fixe, meu" ou "nice" com sotaque nortista.

Mais um vocábulo, este mais velhinho. Dos tempos do meu pai.

- bestial - acho que se lhe pode chamar uma versão dos anos 70 do "tótil"

ex.
- Essas calças são bestiais (bonitas, com estilo).
- É bestial! (interessante, bom, fantástico)
- És bestial. (simpático/a, interessante)

Eu nunca usei este termo. Agora que começo a pensar nisso, até nunca fui muito utilizador de calão. Acho que atingi o pico dessa fase aos 13/14 anos e desapareceu por volta dos 17/18...
 
Qyron said:
Isso foi malvado.

E devo dizer-te que é na boca de muitos "nortistas" que mais oiço tal expressão. Sempre que apanho o Inter Cidades e desço/subo na Gare do Oriente até dói. Nada como ser bombardeado por um "bué da fixe, meu" ou "nice" com sotaque nortista.
Ainda me dói mais a mim saber disso. :eek:
 
Agora um ditado popular, motivado por uma observação feita pelo Qyron num outro thread:
Qyron said:
O tuga gosta é de estar ali, olho no olho, dente no dente, a rebentar á paulada o côco do desgraçado que se lembrou de lhe pisar os calos, ver mioleira a saltar para todos os lados, sangue a espirrar e voar, ouvir os gritos de dor e os ossos a estalar...
"Matar dois coelhos com uma cajadada só."

Esta expressão é equivalente à anglófona "Kill two birds with one stone", mas reparem como a observação do Qyron faz efectivamente sentido. Enquanto os maricas dos ingleses matam dois pássaros com estão lá longe com um tiro de fisga, português que é português mata dois coelhos (muito mais fofos e queridos que o raio dos pardais) que estão mesmo ali à beira, e ainda por cima à força de golpe de cajado, pelo que a sangria é garantida! É a chamada hands-on approach.

Fica assim explicada a subtil diferença que esta expressão implica nas várias línguas.
 
Também existe aquele:

paus e pedras podem quebrar-me os ossos, mas palavras não me atingem

O tolo que disse isto não devia saber o que são "línguas de comadre" (é uma expressão que significa má-língua, coscuvilhice ou intriguismo).

Sei que existe um equivalente inglês para o nosso diatdo, mas não me consigo lembrar.
 
Em inglês é a mesma coisa. Aliás, acho que esse até é capaz de ser mais inglês que português. "Sticks and stones may break my bones..."
 
interesante... em alemao nao temos equivalente de isso de sticks and stones... mas temos isso de dois coelhos, mas agora nao lembro quais animais matamos aqui...
 
Eu acho que isto dos coelhitos foi o primeiro bicho que caiu da árvore.

O que me lembra outra expressão engraçada:

Um olho no burro e outro no cigano.

É uma forma de dizer que nos mantemos atentos a 2 (ou mais) assuntos ao mesmo tempo. Em que um dos assuntos é manhoso.
 
Munachi said:
interesante... em alemao nao temos equivalente de isso de sticks and stones... mas temos isso de dois coelhos, mas agora nao lembro quais animais matamos aqui...
"Zwei Fliegen mit einer Klappe schlagen." Moscas! Vocês são piores que os ingleses! :D
 
Não concordo.

Nunca vi matarem moscas á fisgada. Consideremos os alemães o meio termo entre os tugas e os bifes
 
Qyron said:
Não concordo.

Nunca vi matarem moscas á fisgada. Consideremos os alemães o meio termo entre os tugas e os bifes
Pronto, tens razão. Mas de qualquer forma, são moscas...
 
Também não vês o tuga virar-se á paulada a 2 leões.

Coelhos

Não estamos propriamente no Flying Circus do Monthy Python. Os coelhos não são propriamente criaturinhas de pesadelo, sedentas de sangue.
 
Nós aqui também não temos leões, e andar a matar dois lobos de uma vez com uma cajadada, que era o que o pastor com o referido cajado se calhar até queria fazer, não era muito realista. Ao menos os coelhos aproveitam-se para o jantar.
 
Qyron said:
Não concordo.

Nunca vi matarem moscas á fisgada. Consideremos os alemães o meio termo entre os tugas e os bifes
nao entendi...

mas e verdade! moscas! como podia esquecer...
 
Penso que é Hannibel Lecter em "Hannibal" que diz "Vamos por partes."

A Lauren ali atrás aproveitou a minha saída dos tugas serem uns maníaco-homicidas com apetências pelo gore em comparação com os bifes (ingleses) que preferem matar os pássaros à pedrada, de uma distância segura.

Depois ela foi buscar o vosso ditado (desculpa por não o pôr aqui, mas o alemão para mim ainda é uma língua críptica) (*^_^*;; e argumentou que vocês não são melhores que os ingleses porque viram-se ás moscas.

Ora eu acho que vocês são o meio termo entre os tugas e os bifes. Porquê?

Parte tuga
- gostam de gore (nada como esborrachar uma mosca)
- gostam de fazer as coisas close and personal

Parte bife
- ficam-se pelos bichos pequenos e voadores e, geralmente, inofensivos

Vendo isto tudo, ficam-se pelo meio termo: nem demasiado sádicos nem demasiado cuidadosos.

A saída da fisga eu só a pus porque não estou a ver o espírito prático alemão a matar moscas á fisgada; seria o mesmo que matar um leão com um espingarda de chumbos. Mas sou bem capaz de ver o snobismo britânico a tentar essa triste cena (a das moscas!).
 
Qyron said:
bifes (ingleses)
Acho que era esta a parte que a estava a confundir, e aquela que mais ajuda a aumentar o vocabulário: ingleses = bifes.

Tenho estado aqui a pensar porquê, mas acho que não vale a pena. é um daqueles mistérios de que falei no primeiro post.
 
bife é fonéticamente igual a beef

Daí a alcunha. Penso que esta alcunha se enraizou aquando da estadia das troapas inglesas em Portugas durante a nossa versão da Guerra da Sucessão, com Miguelistas contra os partidários de D. Pedro.
 
Munachi, não me esqueci que num outro thread me comprometi a fazer um reportório de linguagem sexual.

Infelizmente, graças ao meu system crash, fiquei sem ele.

Mas como espero contar com a colaboração da Lauren, espero que fique pronto num instante.

Este é o ditado do dia (em homenagem aos espanhóis):

De Espanha, nem bom vento, nem bom casamento.

Sempre que me ponho a pensar nisto, acho que é mais uma ligação directa ao rancor ancestral que portugueses e espanhóis sempre partilharam.

Na fundação da país, com o outro a querer usurpar o trono só porque andava a comer o pito á mãe do rei...

Em Aljubarrota. Aí até ao forno foram parar. Padeira valente; mulher portuguesa é assim mesmo!

Quando nos meteram 3 reis da treta durante o domínio filipino (75 anos, se não me falha a memória)...

Na divisão do mundo, na Época dos Descobrimentos... Foi no Tratado de Tordesilhas que se partiu o queijo a meio, não foi?

Eheheh... Podemos ser uns desgovernados, mas se nem nós pomos ordem na casa, hão-de ser aqueles gajos a quererem cá meter o bedelho?
 
hm... nao entendo a ultima frase.

mas entendo a coisa do tratamento de tordesilhas...
 
"Meter o bedelho" quer dizer intrometer-se onde não é chamado. O que ele queria dizer é que se nós não nos conseguimos governar, os espanhóis também não iam conseguir.

E é Tratado de Tordesilhas, não tratamento! :D
 
ah... oops... pensei que deveria ver se uso a palavra correcta, mas estive muito preguicosa para isso...
 
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