AMBIENTE: discutam e publiquem

Portugal precisa de mais barragens?


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seilah

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Jun 25, 2007
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Estou a ouvir a discussão parlamentar sobre a próxima presidência da UE.
Sem querer tornar este novo sector do fórum num tema político, gostaria no entanto de vos desafiar a manifestarem aqui as vossas preocupações ambientais.Todos devem ter visionado o filme "uma verdade inconsequente" e estamos cansados de ouvir os mais diversos dirigentes nacionais e internacionais a falar de alterações climáticas, de aquecimento global, de desenvolvimento sustentável... contudo, também me parece que a opinião generalizada das pessoas é a de que se continua a fazer muito pouco para preservar a biodiversidade e os ecossistemas do nosso planeta.
Temos uma série de organizações mais ou menos regionais, nacionais ou internacionais a procurar alertar as populações para os casos mais graves, mas também tenho a convicção de que a maioria das pessoas considera que os ecologistas são demasiado fundamentalistas...
Enfim, julgo que já começam a perceber aquilo que se pretende deste pequenino espaço de discussão.
Afinal em que ficamos? A responsabilidade é sempre dos outros ou também é nossa? Será que não temos a obrigação de participar mais activamente nos assuntos? E qual é a melhor forma de ligar a protecção ambiental à consciência colectiva? Poderá a literatura erótica ajudar de qualquer forma?
 
Last edited:
Não tive oportunidade de ver o Uma Verdade Inconveniente (embora realmente, como dizes, às vezes parece mesmo Inconsequente... ;)) mas estou dentro do assunto.

Tens razão quando dizes que muitas vezes os ecologistas aparecem à população em geral como radicais de mais, e se calhar tínhamos todos mais a ganhar se se tentasse fazer as coisas com mais calma, e não exigir logo este mundo e o outro. Por outro lado, há alturas em que se tem que impedir que aconteçam coisas que vão destruir irremediavelmente ecossistemas únicos, e aí não há tempo para passinhos pequenos.

Pessoalmente, tento fazer o que posso. Quase não ando de automóvel, optando antes pelo metro ou pelo autocarro. Faço separação de lixo e levo tudo para o ecoponto. Tento reaproveitar o que pode ser reaproveitado. Vejo toda as manhãs o Minuto Verde da Quercus na RTP1 :)D). Ainda hoje, ao regressar do hospital (de autocarro), insultei um anormal que atirou lixo para o chão. Ele não gostou, mas se ele acha que tem o direito de atirar a beata do cigarro para o chão, ainda por cima acesa, eu acho que tenho o direito de o apelidar de grande besta em voz alta e em frente às velhinhas que param à porta de casa dele. Pode ser que para a próxima pense duas vezes e dê 3 passos até ao caixote do lixo.
 
seilah said:
Poderá a literatura erótica ajudar de qualquer forma?
Esqueci-me de falar desta parte. A Literotica faz todos os anos um concurso temático de contos eróticos relacionados com a natureza (Earth Day). Não sei se ajuda, mas é giro. :D
 
Lauren Hynde said:
Esqueci-me de falar desta parte. A Literotica faz todos os anos um concurso temático de contos eróticos relacionados com a natureza (Earth Day). Não sei se ajuda, mas é giro. :D
Parece-me uma iniciativa excelente... tratarei de a divulgar apropriadamente entre a comunidade "verde"
 
fatbird20006 said:
A propósito da pergunta das barragens...
A água das chuvas invade Portugal de vez em quando, provoca uma considerável destruição e vai-se sem ter tido nenhuma utilidade à posteriori... por falta de barragens.
Espanha, por exemplo, tem barragens por todos os lados e ninguém questiona a utilidade das mesmas.
Quando um grupo de gente se junta a comer e a comida é abundante e gostosa, sempre há alguém que diz: "¡Ya inauguramos otro pantano!" para rir-se do "caudillo" que passava o tempo a inaugurá-las e a comer banquetes.
Mas não o fazem como crítica à existência das mesmas.
Creio que não é questionável a necessidade de armazenar a água, sobretudo com o aquecimento global e o processo de desertificação causado pelos incêndios florestais.
Eu não questiono de todo a construção de mais barragens. Mas acho que mais importante do que desatar a construir barragens por tudo quanto é lado, era rentabilizar e controlar os recursos hídricos disponibilizados pelas que já existem, o que está muito longe da realidade actual.
 
Estou a gostar!

Ora bem, eu tenho a informar que em pequenito sempre fui a favor das barragens. E nem sequer é porque o meu pai andava de um lado para o outro por causa delas... Única e simplesmente porque eram a forma de obter energia eléctrica mais sustentável e amiga do ambiente que se conhecia.

Acontece que as centrais que foram aplicadas, tal como a Lauren referiu e bem, podem ser muito melhor optimizadas com tecnologia recente (a EDP vai proceder dentro de pouco tempo a acções desse género nas barragens de Picote e Bemposta).

Por outro lado, actualmente temos geradores eólicos com um rendimento brutal, sem falar das centrais fotovoltaicas, energia das ondas... e outras que tais ainda não optimizadas.

A solução passa SEMPRE e PRIMEIRO pelas chamadas medidas de eficiência energética.

Mas os problemas das barragens são bastantes mais graves do ponto de vista ambiental:

- Contrariamente ao que refere o fatbird2006, Espanha é o país da Europa em processo mais avançado de desertificação e de intrusão salina nos níveis freáticos. Porquê? Porque se a água fica retida nas barragens e nos transvazes não se infiltra no solo e muito menos no subsolo, como tal a vegetação autóctone amofinha e o solo começa a empobrecer e a diminuir a sua espessura em consequência das enxurradas que a parca vegetação não consegue evitar.

- Por outro lado, se a vegetação é mais escassa, a temperatura à superfície aumenta e a água evapora-se com maior facilidade. O que acontece ainda mais nas albufeiras, lagos e charcas. Se ela estivesse no subsolo seria muito mais preservada.

- (esta é só um aparte...) Os espanhóis ainda não começaram a tossir muito porque os seus governantes são muito bons e os nossos são uma merda! Isto porque se fosse aplicada a convenção internacional da ONU para a gestão das águas fluviais transfronteiriças eles teriam que deixar seguir para o Estado a jusante metade da água dos Minho, Douro, Tejo e Guadiana... Ora actualmente na melhor das hipóteses vem 35 % e com frequência 10 %.

- Por fim, com a erosão natural provocada pela chuva nas montanhas, parte da camada superficial do solo é arrastada pelas veias de água e ribeiros até ao leito dos rios principais, onde forma o chamado aluvião... Se esses inertes ficam retidos pelas barragens não se dá o chamado "realimentamento costeiro". Percebem agora porque é que a Sul de cada grande rio da nossa costa a terra está a desaparecer? Senão vejamos: No Minho nem tanto porque não há barragens no troço internacional, mesmo assim já começa a faltar areia em Moledo e a Sul de Vila Praia de Âncora, junto à Gelfa; No Lima temos os problemas que se podem ver no "google earth" com o mar a destruir o cabedelo e a falta de areia por ali abaixo; Chegamos ao Cávado e temos as questões de Esposende, Fão, Apúlia, etc.; No Douro temos a pior situação a nível nacional, nem é preciso referir nomes, apenas informo que em Cortegaça o país está a encolher 8 a 9 metros por ano; e por aí fora... Tejo vs Caparica... Como se não bastasse, por causa do movimento de rotação da Terra e do efeito de "Coriolis" as correntes predominantes na nossa costa são de N para S, daí a falta que faz o tal realimento costeiro já que a corrente predominante leva sempre a areia mais para Sul (pensem por exemplo na situação da Figueira desde que se fez o molhe N do porto).

Espero ter ajudado um bocadinho. Por favor continuem!
 
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Realmente, acho que apontar a Espanha como exemplo no que diz respeito ao aproveitamento hídrico não faz muito sentido. Basta ver a generalidade do território desde o ar - e o Fatbird tem aí mais experiência que nós todos juntos - para verificar a aridez instalada. É uma das coisas mais feias que já vi. E isto sabendo, como sabemos todos, que eles retêm muito mais água dos nossos rios do que aquela a que teriam direito de acordo com todas as convenções internacionais...

Mas passando para um aspecto mais micro da questão, a poupança de água é realmente uma das coisas que eu gostaria de fazer mais do que faço, mas por mais que tente, não consigo. Mea culpa. Ao menos não tenho nenhum relvado para regar.
 
Então espera até chegar cá a moda mais recente dos países nórdicos...
Aí toda a gente vai começar a pensar muito bem na água que gasta...

Em vez de taxa de saneamento as câmaras municipais estão a instalar contadores de esgoto!
 
Pois, mas quando digo que não consigo, é porque não consigo mesmo. Tenho de usar o quarto de banho 7 ou 8 vezes por dia, pelo menos, e sempre a requerer o uso do autoclismo. Se o contador fosse posto aí, eu tinha de arranjar uma justificação dos meus médicos.

Tento poupar a água que não consigo poupar aí doutras maneiras, mas mesmo assim, sinto-me em falta.
 
Já existem alguns autoclismos que possuem dois botões que permitem escolher entre descarregar o reservatório na íntegra ou apenas metade.

Há outra coisa que se costuma fazer, e que realmente também permite poupar uns litros valentes, que é introduzir um objecto volumoso dentro do reservatório.

Um exemplo? Uma garrafa cheia de água de 1,5 litros... caso caiba, senão várias mais pequenas; assim podes facilmente calcular a poupança em cada descarga. :)
 
O problema não é esse. Garanto-te que não gasto mais água do que a estritamente necessária com cada descarga. Já tenho esses dispositivos todos. O problema é que só eu sou obrigada a fazer mais descargas por dia do que uma família de 4 ou 5 pessoas.
 
Também pensava como tu, até ter filhos...
Faz-nos rever a posição e tentar desenmerdar isto um bocadinho. Mesmo que seja só um bocadinho pequenino já consola.
 
Ainda este fim de semana discuti com o meu pai por causa disso. Ando eu a separar tudo, e depois ele pega nos sacos e põe tudo no contentor para lixo em geral. "Se mais ninguém separa, porque é que eu hei de perder tempo com isso?" "Já pago mais do que o suficiente para os lixeiros separarem."

Aquilo às vezes só à estalada...
 
Não fará muito tempo que tive uma argumentação semelhante com o meu tio, engenheiro de profissão, da velha escola, em que eram obrigados a estudar de tudo antes de se especializarem num campo.

Num projecto em que ele está actualmente envolvido, estuda-se a viabilidade de implantar e manter uma central térmica de aproveitamento de resíduos sólidos urbanos no arquipélago (bonita palavra - arquipélago)de Cabo Verde. Por muito absurdo que pareça, aquela coisa até dá lucro, quer produzindo energia termoelétrcica quer subprodutos (compostos para adubação, pigmento negro para tintas (por pirólise de borrachas vulcanizadas), cinzas para aproveitamento agrícola, etc) e por acaso já alguém se lembrou de implantar algo semelhante por aqui? Não!

A resposta aparentemente é simples: com a mania -- sim, mania, de evitar o défice de PIB - não se investe neste género de macro-estruturas. O que é absurdo, pois este tipo de estrutura resolve vários problemas de uma assentada, criando postos de trabalho e riqueza a médio/curto prazo, eliminando ao mesmo tempo um empecilho (lixo) da nossa civilização.

Por favor não entendam que estou aqui a dar carta branca à produção de lixos.

O pouco (basicamente nada) que me foi dado a conhecer é bastante impressionante. Uma estrutura deste tipo pode processar sozinha por ano até 160 Toneladas de resíduos sólidos urbanos, produzindo energia suficiente para abastecer cerca de 3 milhões de lares ou cerca de 800.000, funcionando em circuito fechado.

Mas agora voltando ao comentário anterior.

Porque é que os mais velhos não separam? Simples. Pagam-se taxas para saneamento, àgua, electricidade, enfim... tudo o que se possa imaginar.

E depois pedem-nos que, para além de arcar com todos estes impostos, nós selecionemos os nossos resíduos, argumentando que a sua separação se reflectirá no nosso custo de vida, o que não se vê.

Eu não me importaria de pagar bem para ter uma estrutura de recolha de resíduos como já existe em muitos países em que são fornecidos os contentores ao utilizador e as recolhas dos resíduos são programadas, ao invés de ter de fazer uma separação (que faço, diga-se) em casa e depois e depositar num dito Ecoponto - que já assisti a ser despejado indiferentemente para dentro do mesmo veículo de recolha!.
Pagar em função dos resíduos que cada qual produz é muito mais justo que pagar uma taxa "genérica" e amorfa em que se paga não se percebe bem o quê - utilizador/pagador, eis o que acredito.

Portanto, eu não censuro muito os mais velhos por não entrarem na onda. Não concordo, mas entendo.
 
Ele não deixa de ter a sua parte de razão.
O objectivo é evitar que sejam implementadas cá algumas medidas que ao teu pai poderão parecer justas mas que para a maioria da população serão altamente penalizadoras.
Falo do pagamento individualizado consoante o tipo de lixo que produzes: lixo indiferenciado corresponde à taxação máxima enquanto os outros têm taxas inferiores.

Numa perspectiva puramente pragmática, se calhar só dessa forma é que vamos mesmo conseguir gerenalizar a recolha selectiva.
 
Uma casa de 4 indíviduos gera maioritariamente lixo orgânico. E estes resíduos podem ser reaproveitados - julgo que somos pioneiros num processo chamado vermicompostagem que utiliza minhocas para tratamento deste tipo de resíduos, reduzindo-os a adubo/terra composta. SIM, ADUBO, AQUELA COISINHA QUE SE USA NOS VASOS DAS PLANTAS LÁ DE CASA!

E acho que não doía separar aquilo que se produz em casa para depois entregar aprazadamente para reciclagem. Se sei que o que estou a fazer vai ser realmente reaproveitado, porreiro.
Mas quando se assiste a uma total bandalheira como actualmente?!?

Tenho um colega que residiu vários anos na África do Sul e lá paga-se para depositar lixo nas lixeiras - utilizador/pagador.

Isto lembra-me uma história engraçado que se deu numa freguesia obscura de Trás-os-Montes.
A terra era conhecida pelo elevado índice de inutilidade dos seus funcionários públicos. Numa reviravolta teatral nas últimas eleições, um autarca independente sobe à cadeira. Durante 3 semanas não fez mais que visitar, sem pré-aviso, todos os serviços.
O que redundou numa vaga de despedimentos e a substituição de cerca de 85% do pessoal efectivo, por gente jovem, a sua grande maioria recém licenciados. Resultado final: a contestação foi grande mas actualmente a terrinha funciona como um relógio.
 
E acham que a maior parte das pessoas está com esses considerandos? Têm é uma coisa chamada preguiça, para além de décadas de desresponsabilização. Se o vizinho atira lixo para o chão, eu vou preocupar-me em depositar o meu no sítio apropriado? E passa-se o mesmo com países inteiros: Se a China e a Índia andam a queimar carvão, sou eu que vou assinar o protocolo de Quioto? É o ias.

Irresponsáveis, é o que é, e pior que isso, são pessoas sem brio no que fazem nem no sítio onde vivem e onde as gerações futuras terão de se amanhar.
 
Qyron said:
Tenho um colega que residiu vários anos na África do Sul e lá paga-se para depositar lixo nas lixeiras - utilizador/pagador.
Uma coisa semelhante acontece, julgo, em Zurique. O lixo é recolhido apenas em sacos próprios (Zueri-Sack) que as pessoas têm de comprar e não são nada baratos. Existem sacos de vários tamanhos e para vários tipos de lixo, com preços a combinar. Obviamente, quanto maior, mais caro; e lixos gerais, mais caros que qualquer dos devidamente separados. As recolhas são selectivas e o mais espaçadas possível. Assim, as pessoas, obrigadas a ter de conviver com o lixo até à próxima recolha e a ter de pagar ainda por cima, começaram a ter de pensar a sério no que queriam mesmo deitar fora e no que podiam reaproveitar, reciclar, compostar, etc. Ao fazer compras, começaram a optar por produtos com menos embalagem, e mesmo ao comprar electrodomésticos, televisões, etc, começaram a desembalar tudo ainda na loja, para não levar lixo para casa, o que por sua vez fez com que as lojas começassem a reduzir ao máximo as embalagens. Resultado, ao fim de pouco tempo, uma diminuição para menos de metade dos resíduos urbanos produzidos.
 
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