25 de Abril Sempre!

ElPila said:
Eu só estaria daí a três anos.
Estavas, portanto, ainda como um projecto em fase de apreciação. Eu nem aí tinha chegado.

Mas então e este ano? Ali a Gisella esteve em casa mas não disse nada o dia todo [:mad:]; Eu também acho que sim, estive por aqui a ver uns DVDs. Antes do 25 de Abril de 1974 alguém podia ficar em casa a ver DVDs? Era o podias!
 
Lauren Hynde said:
Antes do 25 de Abril de 1974 alguém podia ficar em casa a ver DVDs? Era o podias!

Claro que não podias ver DVD's nem vídeos porque não existiam, mas podias ler, falar, ver e ouvir tudo o que te apetecia. Eu lia tudo o que me apetecia, os meus pais também, e nunca tinha ouvido falar de perseguições políticas.

Durante o dia, em si, recordo-me que foi um dia agradável por não haver escola. Para além disso, ainda foi mais animado por vermos aviões de combate (fiat) a rapar junto à marginal, em Algés.

Mas se querem saber a minha opinião sincera, foi o início de uma grande rebaldaria que só agora começa a acalmar, mas que infelizmente nos está a levar para o mesmo quadro sócio-económico do dia 27 de Maio de 1926. Oxalá eu esteja enganado...
Um presidente do conselho de ministros aldrabão, cábula e petulante? Aí sim, havia censura! E bem!!! Olhem... por este andar, qualquer dia temos lá o emplastro, dos tripeiros! Com o tempo de antena e fãs que já tem, nem me admirava mesmo nada.
 
fatbird20006 said:
Com a rebaldaria que veio, tornei-me visceralmente anti-comunista.

Um amigo meu alentejano, que também é sportinguista, costuma dizer que é como os touros: Marra contra tudo o que é vermelho!
 
seilah said:
Claro que não podias ver DVD's nem vídeos porque não existiam, mas podias ler, falar, ver e ouvir tudo o que te apetecia. Eu lia tudo o que me apetecia, os meus pais também, e nunca tinha ouvido falar de perseguições políticas.


Ponto 1: Não teres ouvido falar das perseguições políticas não é de admirar. Afinal, fazia-se por isso. Também não ouvias falar dos milhares de miúdos que morriam ou ficavam estropiados (por dentro e por fora) na guerra, nem nos muitos desgraçados que saíam do país quando percebiam que ter alguma coisa para comer de vez em quando talvez não fosse suficiente.

Ponto 2: Se lias, falavas, vias e ouvias tudo o que te apetecia, talvez fosse porque só te apetecia ler, falar, ver e ouvir coisas que o regime da altura considerava inofensivas.
 
Als die Nazis die Kommunisten holten,
habe ich geschwiegen;
ich war ja kein Kommunist.
 
ElPila said:
Ponto 1: Não teres ouvido falar das perseguições políticas não é de admirar. Afinal, fazia-se por isso. Também não ouvias falar dos milhares de miúdos que morriam ou ficavam estropiados (por dentro e por fora) na guerra, nem nos muitos desgraçados que saíam do país quando percebiam que ter alguma coisa para comer de vez em quando talvez não fosse suficiente.

Ponto 2: Se lias, falavas, vias e ouvias tudo o que te apetecia, talvez fosse porque só te apetecia ler, falar, ver e ouvir coisas que o regime da altura considerava inofensivas.

Em relação ao ponto 1. tenho a informar que é totalmente falso. Todos os dias havia notícias da guerra. Aliás nunca soube de mais nenhum país dito "democrático" em que todos os militares mobilizados eram televisionados para enviar mensagens de Natal e ano novo à família. Por outro lado, os arautos da liberdade, leia-se franceses e americanos, tinham guerras em apenas um teatro e perderam-nas, sem apelo nem agravo (Argélia e Vietname). Nós tínhamos 3 teatros em simultâneo, e em dois deles a guerra estava ganha.

Quanto ao ponto 2., igualmente errado. O meu pai toda a vida foi de esquerda (muito antes da revolução), pertencendo a várias organizações de cariz sindical e político de esquerda. Não sei se eras vivo por esses tempos, mas eu era e também pensei, como todos na altura, que a revolução foi uma coisa boa. Aliás continuo a pensar. Agora daí a dizer que isto agora é que é e que no tempo da outra senhora estava tudo mal, calma aí.
 
Mais uma voltinha. Não é verdade que todos os militares mobilizados fossem televisionados. A RTP Não tinha tempo de emissão suficiente para isso (acho que não teria mesmo que emitisse 24 horas por dia).

É provável que as tais mensagens de Natal não existissem em países ditos "democráticos" (não percebo as aspas, a definição de democracia é bastante clara, mesmo com todos os defeitos que tem). Porque, nos países democráticos, havia cobertura noticiosa de uma imprensa livre que conseguia captar as verdades que escapavam à rede de secretismo militar e aos pontos de vista oficiais. Nos Estados Unidos, por exemplo, isso alimentou a oposição à Guerra do Vietname e manifestações de repúdio pelo país todo. Cá não houve manifestações de repúdio. Porque as únicas manifestações permitidas eram as organizadas pelo partido único e porque o repúdio era "insistentemente desencorajado" (para fazer uso também das aspas). Não sei até que ponto será positivo meter no mesmo saco a cobertura jornalística imparcial e uma sequência interminável de soldados semianalfabetos a repetir a mesma frase para a câmara com pronúncias regionais diversas.

As únicas vozes que ouço dizer que a guerra estava ganha numa das frentes (em Moçambique, e não em duas) pertencem aos generais que então comandavam as operações. Não percebo como pode vencer-se uma guerra de guerrilha contra movimentos clandestinos que têm as suas bases fora do teatro de guerra e que são abastecidos por superpotências sem, pelo menos, se ocupar militarmente os países vizinhos. Mas isso sou eu que não sou nenhum estratega brilhante. O que pode dizer-se é que a guerra na Guiné estava perdida e que o país já era independente de facto antes de 74.

O Vietname foi um conflito ideológico típico da Guerra Fria e não uma guerra colonial. E além da Argélia, havia também a Indochina.
 
Nem o meu pai, nem nenhum dos meus tios alguma vez foram televisionados enquanto por lá andaram aos tiros. Um dos meus tios deve ter aparecido na televisão de circuito fechado do hospital psiquiátrico quando voltou da Guiné, mas não tenho a certeza.

A minha mãe, avó e tias, todas nascidas em Angola, ficavam em pânico de cada vez que a polícia aparecia na oficina do meu avô, porque nunca sabiam se lá iam levar alguma mota a precisar de ser reparada ou se finalmente o iam buscar a ele, que quando bebia perdia o tento na língua.

Realmente, parecem ter sido bons tempos...
 
O meu pai, quando se veio embora do Leste de Angola com a guerra ganha, ficou contente por ter trazido os camaradas da companhia quase todos (camaradas no sentido militar e não comunista, calma) e quase todos quase inteiros. Mas a rapaziada que os substituiu para comemorar a vitória morreu quase toda. Há gente que não sabe perder.
 
A minha mãe também teve de ir a Fátima por causa da guerra ter acabado...
São as nossas mães, nós percebemos...
 
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