Qyron
Maniac
- Joined
- Aug 16, 2006
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- 3,776
Rapaz urbano e solteiro que sou, fui ontem à noite fazer compras a uma grande superfície comercial perto de minha casa. Saí do trabalho, pasta ao ombro, apanhei o Metropolitano e lá fui, descontraídamente, à minha vida.
Lá chegado, fiquei admirado por numa segunda-feira de início de mês o local não estar a rebentar pelas costuras de gente como é usual. Agarrei num cestinho e comecei a minha aventura entre os corredores, à procura dos bens que necessitava.
Qual não é a minha admiração quando começo a reparar que por onde passo todas as pessoas, com maior incidência para as senhoras (os homens lançavam um olhar de soslaio e voltavam a cara), ficavam embasbacadas a olhar para mim. Bem, embasbacadas é exagero, mas foram várias as vezes que captei um olhar fixo em mim por um longo momento.
Não me considero um homem bem parecido. Nem sequer vistoso. E este género de situação dar-se com a minha pessoa é, no mínimo, pouco ortodoxo. Isto suscitou em mim um pensamento negro: teria eu as calças rasgadas no cu? Ou uma enorme cagadela de pombo no blusão? Mas fiz um esforço de autodomínio e segui o meu périplo pelo supermercado. Sempre seguido pelo olhar alheio.
Em cerca de 35 minutos as minhas compras estão feitas. É altura de pagar. Dirijo-me a uma caixa, onde deposito o conteúdo do meu cestinho na passadeira rolante e aguardo que a funcionária faça o registo dos produtos. Cordialmente, cumprimento a pessoa com um sorriso. Diligentemente, os produtos vão somando no écrã.
Nisto, caída não sei de onde, vem esta pergunta da parte da operadora de caixa:
- É casado?
Ao que respondi:
- Não.
Recarga da operadora:
- Vive junto?
Ao que respondi:
- Também não.
Segunda recarga:
- Veio às compras para alguém?
Já meio desconfiado com o rumo da conversa, mas curioso, arrisquei:
- Não. Porquê?
Resposta da operadora enquanto digitava manualmente o código de um pacote de cereais:
- O senhor não se ofenda, por favor, mas sabe... ver-se um rapaz da sua idade vir fazer compras, sozinho, e levar este tipo de artigos, normalmente ou é casado ou é junto ou vem fazer compras para alguém.
Meio aparvalhado com a saída, mas desconfiado que a resposta estava incompleta, decidi atirar o barro à parede a ver onde colava.
- Mas garanto-lhe que não sou casado, nem vivo junto e que as compras são para mim.
A moça introduz o total de pagamento no terminal de multibanco, dá-me indicação para confirmar e calmamente pergunta-me:
- É gay?
Fiquei sem saber o que fazer. Rir, chorar, ficar ofendido, agradecer... tudo me parecia desfazado da situação. Devolvi um "O que acha?", acabei com um "boa noite" meio engasgado e fui para casa. Acho que enquanto jantava ri-me como nunca me tinha rido na vida.
Mas isto deixa-me a questão: são os homossexuais os únicos que vão às compras ou o resto dos tugas têm medo que lhes caiam as calças por irem ao supermercado sozinhos?
Lá chegado, fiquei admirado por numa segunda-feira de início de mês o local não estar a rebentar pelas costuras de gente como é usual. Agarrei num cestinho e comecei a minha aventura entre os corredores, à procura dos bens que necessitava.
Qual não é a minha admiração quando começo a reparar que por onde passo todas as pessoas, com maior incidência para as senhoras (os homens lançavam um olhar de soslaio e voltavam a cara), ficavam embasbacadas a olhar para mim. Bem, embasbacadas é exagero, mas foram várias as vezes que captei um olhar fixo em mim por um longo momento.
Não me considero um homem bem parecido. Nem sequer vistoso. E este género de situação dar-se com a minha pessoa é, no mínimo, pouco ortodoxo. Isto suscitou em mim um pensamento negro: teria eu as calças rasgadas no cu? Ou uma enorme cagadela de pombo no blusão? Mas fiz um esforço de autodomínio e segui o meu périplo pelo supermercado. Sempre seguido pelo olhar alheio.
Em cerca de 35 minutos as minhas compras estão feitas. É altura de pagar. Dirijo-me a uma caixa, onde deposito o conteúdo do meu cestinho na passadeira rolante e aguardo que a funcionária faça o registo dos produtos. Cordialmente, cumprimento a pessoa com um sorriso. Diligentemente, os produtos vão somando no écrã.
Nisto, caída não sei de onde, vem esta pergunta da parte da operadora de caixa:
- É casado?
Ao que respondi:
- Não.
Recarga da operadora:
- Vive junto?
Ao que respondi:
- Também não.
Segunda recarga:
- Veio às compras para alguém?
Já meio desconfiado com o rumo da conversa, mas curioso, arrisquei:
- Não. Porquê?
Resposta da operadora enquanto digitava manualmente o código de um pacote de cereais:
- O senhor não se ofenda, por favor, mas sabe... ver-se um rapaz da sua idade vir fazer compras, sozinho, e levar este tipo de artigos, normalmente ou é casado ou é junto ou vem fazer compras para alguém.
Meio aparvalhado com a saída, mas desconfiado que a resposta estava incompleta, decidi atirar o barro à parede a ver onde colava.
- Mas garanto-lhe que não sou casado, nem vivo junto e que as compras são para mim.
A moça introduz o total de pagamento no terminal de multibanco, dá-me indicação para confirmar e calmamente pergunta-me:
- É gay?
Fiquei sem saber o que fazer. Rir, chorar, ficar ofendido, agradecer... tudo me parecia desfazado da situação. Devolvi um "O que acha?", acabei com um "boa noite" meio engasgado e fui para casa. Acho que enquanto jantava ri-me como nunca me tinha rido na vida.
Mas isto deixa-me a questão: são os homossexuais os únicos que vão às compras ou o resto dos tugas têm medo que lhes caiam as calças por irem ao supermercado sozinhos?